quarta-feira, 30 de novembro de 2016

Camilo Pessanha

Resultado de imagem para camilo pessanhaCamilo de Almeida Pessanha nasceu como filho legítimo de João António de Almeida Pessanha, um estudante de direito de aristocracia, e Maria Espírito Santo Duarte Nudes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de 1867,na Sé Nova, Coimbra, Portugal. O casal teria mais quatro filhos.
Camilo Pessanha criou uma arte meticulosa no tratamento musical e evocativo do verso que muito lembra a de Verlaine. Os seus sonetos, sobretudo, são lançados com um cuidado extremo em eliminar quaisquer inflexões previsíveis da expressão sentimental. Não se trata do amor, da esperança, da desilusão, da dor, do desejo, dos grandes românticos encarecidos.
A poesia de Camilo Pessanha não resiste apenas à crítica biografante, mas também ao estreito historicismo literário.
Camilo Pessanha foi o poeta mais autenticamente Simbolista de Portugal, e um grande inovador da poética de seu país, cuja influência se estende até os modernistas da geração Orpheu, sobretudo em Fernando Pessoa. Afastou-se do discursivismo neoromântico dos poetas do seu tempo (Antônio Nobre, Augusto Gil, Afonso Lopes Vieira) e inovou a escrita poética, incorporando procedimentos próximos aos do decadentismo de Verlaine, em especial no que se refere à aproximação entre a poesia e a música.
Apresentando uma visão extremamente pessimista de mundo, a obra poética de Camilo Pessanha sugere uma visão de mundo sobretudo marcada pela ótica da ilusão e da dor.

Simbolismo
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo. É uma corrente que reage contra o positivismo científico, o materialismo, a disciplina e o realismo parnasianos. Procura a espiritualidade, a transcendência física, a imaginação, proclama o ideal (parnasiano) da arte pela arte e afirma-se sobretudo na poesia (a poesia pela poesia). A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspetos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma

Interrogação
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar, 
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo; 
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar 
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.

Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. 
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos. 
Nem depois de acordar te procurei no leito, 
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.

Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.

Passo contigo a tarde e sempre sem receio 
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca. 
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio 
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.

Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente... 
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço, 
Que adoecia talvez de te saber doente.

 A mulher parece ser sobretudo uma fonte de apaziguamento, de refrigério («Procuro o teu olhar,/ Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo», «Mas sinto‑me sorrir de ver esse sorriso/ Que me penetra bem, como este sol de Inverno», «Passo contigo a tarde e sempre sem receio/ Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.»), mas não inspira nem a intenção de formar uma família («nunca pensei num lar/ Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.»), ou paixão lacrimosa e romântica («Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.») ou desejo sensual («Nem depois de acordar te procurei no leito/ Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.», «Eu não demoro o olhar na curva do teu seio/ Nem me lembrei jamais de te beijar a boca.»).

Violencelo
Chorai arcadas 
Do violoncelo! 
Convulsionadas, 
Pontes aladas 
De pesadelo...

De que esvoaçam, 
Brancos, os arcos... 
Por baixo passam, 
Se despedaçam, 
No rio, os barcos.

Fundas, soluçam 
Caudais de choro... 
Que ruínas, (ouçam)! 
Se se debruçam, 
Que sorvedouro!...

Trémulos astros... 
Soidões lacustres...
—: Lemos e mastros...
E os alabastros 
Dos balaústres!

Urnas quebradas! 
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas, 
Despedaçadas, 
Do violoncelo
.

Este poema tem nos movimentos do arcos sobre as suas cordas a gênese de inúmeras imagens, notadamente as arquitetónicas, relacionadas com o sentimento de destruição, de ruína, de desmoronamento e de fragmentação, mais das vezes assumindo um sentido metafórico da falência e fragmentação do ser.
A música do violoncelo provoca um estado de alma ansioso, um sentimento de misteriosa tristeza. Mas este sentimento não é dado diretamente; é apenas sugerido por uma série de imagens e associações. Nada de tentar encontrar objetividade no poema: o poeta não nos afirma que fica triste, ansioso, inquieto, ao ouvir o violoncelo. Mas logo a apóstrofe «Chorai arcadas» nos revela o carácter triste da música. O poema assenta, pois, numa intuição associativa que liga o som grave do violoncelo ao sentimento de dor e de mistério.

A água estabelece uma relação com Clepsidra.    

quinta-feira, 24 de novembro de 2016

António Nobre

Resultado de imagem para antónio nobreAntónio Nobre (1867-1900) foi um poeta português, criou uma arte singular, aliando a subjetividade do romântico ao poder de sugestão do simbolista.
António Pereira Nobre (1867-1900), conhecido como António Nobre, nasceu em Porto, Portugal no dia 16 de agosto de 1867. Filho de família abastada ingressou na Faculdade de Direito, na Universidade de Coimbra. Após ser reprovado por duas vezes, abandonou o curso. Em 1890 se mudou para Paris, onde estudou na Escola Livre de Ciências Políticas.
Nessa época, familiarizou-se com as novas tendências da poesia – a poesia simbolista. Em 1892, em Paris, publicou o livro de poemas “Só”, obra marcada pela nostalgia e lamentação, porém com um vocabulário refinado, característica do simbolismo francês. Em 1895 licenciou-se em Ciências Políticas.

Fonte: https://www.ebiografia.com/ant_nio_nobre/

sexta-feira, 4 de novembro de 2016

Cesário Verde



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"Se eu não morrese, nunca! E eternamente buscasse e conseguisse a perfeição das coisas!"

O poeta português José Joaquim Cesário Verde nasceu em Lisboa no dia 25 de fevereiro de 1855. Conhecido por seus dois últimos nomes, ele é visto como um dos predecessores  e grande influência do estilo poético realizado no século XX em Portugal.
Cesário Verde teve uma origem humilde, era filho de um comerciante e agricultor chamado José Anastácio Verde e de Maria da Piedade dos Santos Verde. Em 1873, inicia seus estudos acadêmicos no Curso Superior de Letras, mas frequenta as aulas por apenas alguns meses. Neste período, acaba conhecendo um amigo que levaria para o resto da vida, Silva Pinto, também português e escritor. Naquela época, as atividades de Cesário eram produzir muitas poesias, que acabavam sendo publicadas em periódicos, além de trabalhar no comércio, ofício que herdara de seu pai.
Cesário Verde não conseguiu escapar da doença e faleceu aos 30 anos, em dezenove de julho de 1886. Silva Pinto, em sua homenagem, organizou uma compilação com a poesia do amigo, que chamou de “O Livro de Cesário Verde”. Em 1901 este livro foi publicado.
Na poesia de Cesário Verde, alguns temas predominantes são o campo e a cidade.O seu estilo era delicado, pois o poeta evitava o lirismo clássico.
As características mais importantes encontradas na análise de sua obra são imagens muito visuais que tinham o objetivo de dimensionar a realidade do mundo, a mistura do moral com o físico, a combinação de sensações, comparações, metáforas, sinestesias, versos decassílabos e quadras.
Um tema recorrente nas poesias de Cesário Verde é a mulher.Apresenta dois tipos femininos, sempre atrelados aos locais em que ambienta seus versos. Na cidade, cria uma mulher calculista, madura, autodestrutiva e dominadora. A sua representação do campo, o poeta descreve mulheres pobres, feias, doentes, esforçadas e trabalhadoras.
      Naquele pic-nic de burguesas,
      Houve uma coisa simplesmente bela,
      E que, sem ter história nem grandezas,
      Em todo o caso dava uma aguarela.


      Foi quando tu, descendo do burrico,
      Foste colher, sem imposturas tolas,
      A um granzoal azul de grão-de-bico
      Um ramalhete rubro de papoulas.


      Pouco depois, em cima duns penhascos,
      Nós acampámos, inda o Sol se via;
      E houve talhadas de melão, damascos,
      E pão-de-ló molhado em malvasia.


      Mas, todo púrpuro a sair da renda
      Dos teus dois seios como duas rolas,
      Era o supremo encanto da merenda
      O ramalhete rubro das papoulas!

O Livro de Cesário Verde, Lisboa, 1887
Neste poema verifica-se a capacidade descritiva de Cesário Verde e o seu gosto pela natureza. É possível verificar-se ainda uma característica muito especial do poeta, o gosto pela simplicidade. O facto de a burguesa ter descido do burrico descontraída e sem imposturas tolas e ter ido colher papoulas deu a Cesário um significado belo. Para o poeta o real valor das coisas estava na simplicidade.
A descrição do local onde a burguesa fora colher as pápulas “um granzoal azul de grão-de-bico” demonstra a capacidade descritiva do real observado pelo poeta e, assim quando a sua poesia é lida logo o leitor imagina a sena presenciada pelo poeta.

Verifica-se ainda o gosto de Cesário pela mulher simples que não se dá a luxos e que, tal como ele, gosta da natureza e do campo.




Poemas de Antero de Quental

O Palácio da Ventura

Sonho que sou um cavaleiro andante. 
Por desertos, por sóis, por noite escura, 
Paladino do amor, busco anelante 
O palácio encantado da Ventura! 

Mas já desmaio, exausto e vacilante, 
Quebrada a espada já, rota a armadura... 
E eis que súbito o avisto, fulgurante 
Na sua pompa e aérea formosura! 

Com grandes golpes bato à porta e brado: 
Eu sou o Vagabundo, o Deserdado... 
Abri-vos, portas de ouro, ante meus ais! 

Abrem-se as portas d'ouro com fragor... 
Mas dentro encontro só, cheio de dor, 
Silêncio e escuridão - e nada mais!


O assunto deste poema é que o sujeito poético sonha ser um cavaleiro andante, que é uma personagem de ficção mas que ganha vida, e que segundo Rui Veloso na canção intitulada de "Cavaleiro andante", apoia o "tu" nas suas "mágoas e desventuras". Esta cavaleiro andante procura o palácio da Ventura, isto é, a felicidade; quando está prestes a desistir, encontra-o finalemnte, mas o interior do palácio está vazio, o que lhe provoca sofrimento e angústia. No final, o sujeito poético constata que a sua demanda se revela vã, experienciando a deceção, o desvanecer total do seu sonho. Simbolicamente, podemos considerar que, mesmo quando se configuram ao nosso alcance, os ideais (de justiça, felicidade, liberdade...) se nos escapam sempre. 
Quanto à estrutura, este poema é um soneto, com a rima cruzada, emparelhada e interpolada. Enquanto à métrica, este poema é decassilábico.

Tormento do Ideal
Resultado de imagem para tormento do idealConheci a Beleza que não morre
E fiquei triste. Como quem da serra
Mais alta que haja, olhando aos pés a terra
E o mar, vê tudo, a maior nau ou torre,

Minguar, fundir-se, sob a luz que jorre;
Assim eu vi o mundo e o que ele encerra
Perder a cor, bem como a nuvem que erra
Ao pôr-do-sol e sobre o mar discorre.

Pedindo à forma, em vão, a ideia pura,
Tropeço, em sombras, na matéria dura,
E encontro a imperfeição de quanto existe.


Recebi o batismo dos poetas,
E assentado entre as formas incompletas
Para sempre fiquei pálido e triste.



No primeiro quarteto diz que apesar de ter alcançado a beleza ideal, ficou triste. Como demonstra no segundo quarteto, esse ideal de beleza não tem correspondências no mundo real onde adoece de imperfeições (“perder a cor”) e, por mais que procura a “ideia pura” (primeiro terceto) nos elementos da realidade, descobre que o material apenas lhe oferece “sombras” e “a imperfeição de quanto existe”. Conclui sentenciando que, como chegou a ser poeta, pode possuir intelectualmente os ideais da perfeição, mas ficou para sempre triste e saudoso por não ser capaz de atopar essa verdade no mundo real e sensorial do resto dos humanos.
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Hino à razão
Razão, irmã do Amor e da Justiça,
Mais uma vez escuta a minha prece,
É a voz dum coração que te apetece,
Duma alma livre, só a ti submissa.
     
Por ti é que a poeira movediça
De astros e sóis e mundos permanece;
E é por ti que a virtude prevalece,
E a flor do heroísmo medra e viça.
     

 Por ti, na arena trágica, as nações 
 Buscam a liberdade, entre clarões; 

 E os que olham o futuro e cismam, mudos,
     
 Por ti, podem sofrer e não se abatem, 
 Mãe de filhos robustos, que combatem 

  Tendo o teu nome escrito em seus escudos!


O poeta considera a Razão «irmã do Amor e da Justiça», porque é a voz do sentimento. Procurando o sentido da vida e da dor, o poeta tenta unir a razão ao coração.  Justiça, Liberdade são três valores que ressaltam deste soneto. Ao tornar a Razão irmã do Amor e da Justiça, o poeta revela-se preocupado em harmonizar conceitos. Cabe à Razão levar o Homem a saber que só o Amor e a Justiça podem criar a harmonia e levar à Liberdade.
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A um poeta
Tu, que dormes, espírito sereno,
Posto à sombra dos cedros seculares,
Como um levita à sombra dos altares,
Longe da luta e do fragor terreno,

Acorda! é tempo! O sol, já alto e pleno,
Afugentou as larvas tumulares...
Para surgir do seio desses mares,
Um mundo novo espera só um aceno...

Escuta! é a grande voz das multidões!
São teus irmãos, que se erguem! São canções...
Mas de guerra... e são vozes de rebate!

Ergue-te, pois, soldado do Futuro,
E dos raios de luz do sonho puro,

Sonhador, faze espada de combate.



Neste soneto, o termo "Poeta" poderá remeter para a figura de um idealista, possivelmente em consonância com o espírito da época. A referência ao espírito do mundo romântico, lúgubre e sombrio, percebe-se quando, personificando o sol, usa a metáfora em "Afugentou as larvas tumulares" (v. 6) e "Um mundo novo espera só um aceno" (v. 8). Mas o que interessa, sobretudo, é perceber que o sujeito lírico faz um apelo a todo aquele que é capaz de sonhar, mas vive alheado e num estado de inércia quando é necessária a luta revolucionária ao lado de um povo que sofre e que busca a liberdade.

Poetas do Século XX

SOPHIA DE MELLO BREYNER ANDRESEN Sophia de Mello Breyner Andresen nasceu no Porto no dia 6 de novembro de 1919 e faleceu em Lisboa no d...