Proençaes soen mui ben trobar
e dizen eles que é con amor;
mais os que troban no tempo da frol
e non en outro, sei eu ben que non
an tan gran coita no seu coraçon
qual m'eu por mha senhor vejo levar.
Pero que troban e saben loar
sas senhores o mais e o melhor
que eles poden, soõ sabedor
que os que troban quand'a frol sazon
á, e non ante, se Deus mi perdon,
non an tal coita qual eu ei sen par.
Ca os que troban e que s'alegrar
van eno tempo que ten a color
a frol consigu', e, tanto que se for
aquel tempo, logu'en trobar razon
non an, non viven [en] qual perdiçon
oj'eu vivo, que pois m'á-de matar.
Análise Semântica
Na cantiga proposta para análise, o trovador critica o artificialismo do amor cortês em oposição à autenticidade do amor que ele sente. O trovador fundamenta esta questão pelo facto dos «proençais» apenas trovarem «no tempo da frol/e non en outro», o que prova a falta de sinceridade do seu sentimento, já que este só existe na primavera.
Desta forma o trovador considera-se diferente dos «proençais», pois o seu amor é sincero e o seu sofrimento verdadeiro, afirmando, através do presente do indicativo, que os «proençaes» não têm «tan gran coita no seu coraçon/qual m’eu por mha senhor vejo levar». Os «proençaes» não vivem o desespero em que ele vive «non viven en qual perdiçon/oj’eu vivo», pois eles só trovam no «tempo da frol», «tanto que se for/aquel tempo, logu’en trobar razon/non an», o que confirma o artificialismo dos seus sentimentos. Há que salientar a ironia que o trovador utiliza na forma verbal «dizen», manifestando, assim, o seu cepticismo relativamente aos «proençaes» que não amam como ele, amor esse que «m’á-de matar».
Análise Formal
Relativamente à sua estrutura formal, é uma cantiga de mestria constituída por três estrofes de seis versos (sextilhas) predominantemente decassílabos. Quanto à rima, esta apresenta-se emparelhada em «amor» e «frol», e interpolada em «trobar» e «levar», de acordo com o seguinte esquema rimático: abbcca, que se repete ao longo das três estrofes. Em relação à morfologia, a rima é predominantemente pobre, como em «trobar» e «levar». No que respeita à acentuação é exclusivamente aguda «frol», e no que concerne à fonia é predominantemente consoante «loar», «par».
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