Camilo de Almeida Pessanha nasceu como filho legítimo de
João António de Almeida Pessanha, um estudante de direito de aristocracia, e
Maria Espírito Santo Duarte Nudes Pereira, sua empregada, em 7 de setembro de
1867,na Sé Nova, Coimbra, Portugal. O casal teria mais quatro filhos.
Camilo Pessanha criou uma arte meticulosa no tratamento
musical e evocativo do verso que muito lembra a de Verlaine. Os seus sonetos,
sobretudo, são lançados com um cuidado extremo em eliminar quaisquer inflexões
previsíveis da expressão sentimental. Não se trata do amor, da esperança, da
desilusão, da dor, do desejo, dos grandes românticos encarecidos.
A poesia de
Camilo Pessanha não resiste apenas à crítica biografante, mas também ao
estreito historicismo literário.
Camilo Pessanha foi o poeta mais autenticamente Simbolista de Portugal, e
um grande inovador da poética de seu país, cuja influência se estende até os
modernistas da geração Orpheu, sobretudo em Fernando Pessoa. Afastou-se do
discursivismo neoromântico dos poetas do seu tempo (Antônio Nobre, Augusto Gil,
Afonso Lopes Vieira) e inovou a escrita poética, incorporando procedimentos
próximos aos do decadentismo de Verlaine, em especial no que se refere à
aproximação entre a poesia e a música.
Apresentando uma visão extremamente pessimista de
mundo, a obra poética de Camilo Pessanha sugere uma visão de mundo sobretudo
marcada pela ótica da ilusão e da dor.
Simbolismo
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo. É uma corrente que reage contra o positivismo científico, o materialismo, a disciplina e o realismo parnasianos. Procura a espiritualidade, a transcendência física, a imaginação, proclama o ideal (parnasiano) da arte pela arte e afirma-se sobretudo na poesia (a poesia pela poesia). A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspetos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma
O Simbolismo é um movimento literário que surge em finais do século XIX e que tem por base o conceito de símbolo. É uma corrente que reage contra o positivismo científico, o materialismo, a disciplina e o realismo parnasianos. Procura a espiritualidade, a transcendência física, a imaginação, proclama o ideal (parnasiano) da arte pela arte e afirma-se sobretudo na poesia (a poesia pela poesia). A poesia de Camilo Pessanha reúne os aspetos mais marcantes da escola simbolista. Aliado ao conceito de símbolo, encontramos a arte da sugestão que em Pessanha se traduz na utilização da técnica impressionista, na imagem visual e sonora, com a finalidade de sugerir sensações e convidar o leitor a interpretar estados de alma
Interrogação
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crês? nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito,
Como a esposa sensual do Cântico dos Cânticos.
Se é amar-te não sei. Não sei se te idealizo
A tua cor sadia, o teu sorriso terno...
Mas sinto-me sorrir de ver esse sorriso
Que me penetra bem, como este sol de Inverno.
Passo contigo a tarde e sempre sem receio
Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.
Eu não demoro o olhar na curva do teu seio
Nem me lembrei jamais de te beijar na boca.
Eu não sei se é amor. Será talvez começo.
Eu não sei que mudança a minha alma pressente...
Amor não sei se o é, mas sei que te estremeço,
Que adoecia talvez de te saber doente.
A mulher
parece ser sobretudo uma fonte de apaziguamento, de refrigério («Procuro o teu
olhar,/ Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo», «Mas sinto‑me sorrir de ver esse sorriso/ Que me
penetra bem, como este sol de Inverno», «Passo contigo a tarde e sempre sem
receio/ Da luz crepuscular, que enerva, que provoca.»), mas não inspira nem a
intenção de formar uma família («nunca pensei num lar/ Onde fosses feliz, e eu
feliz contigo.»), ou paixão lacrimosa e romântica («Por ti nunca chorei nenhum
ideal desfeito. E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.») ou desejo
sensual («Nem depois de acordar te procurei no leito/ Como a esposa sensual do
Cântico dos Cânticos.», «Eu não demoro o olhar na curva do teu seio/ Nem me
lembrei jamais de te beijar a boca.»).
Violencelo
Chorai arcadas
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
—: Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Do violoncelo!
Convulsionadas,
Pontes aladas
De pesadelo...
De que esvoaçam,
Brancos, os arcos...
Por baixo passam,
Se despedaçam,
No rio, os barcos.
Fundas, soluçam
Caudais de choro...
Que ruínas, (ouçam)!
Se se debruçam,
Que sorvedouro!...
Trémulos astros...
Soidões lacustres...
—: Lemos e mastros...
E os alabastros
Dos balaústres!
Urnas quebradas!
Blocos de gelo...
— Chorai arcadas,
Despedaçadas,
Do violoncelo.
Este
poema tem nos movimentos do arcos sobre as suas cordas a gênese de inúmeras
imagens, notadamente as arquitetónicas, relacionadas com o sentimento de
destruição, de ruína, de desmoronamento e de fragmentação, mais das vezes
assumindo um sentido metafórico da falência e fragmentação do ser.
A música do violoncelo provoca um estado de alma
ansioso, um sentimento de misteriosa tristeza. Mas este sentimento não é dado
diretamente; é apenas sugerido por uma série de imagens e associações. Nada de
tentar encontrar objetividade no poema: o poeta não nos afirma que fica triste,
ansioso, inquieto, ao ouvir o violoncelo. Mas logo a apóstrofe «Chorai arcadas»
nos revela o carácter triste da música. O poema assenta, pois, numa intuição
associativa que liga o som grave do violoncelo ao sentimento de dor e de
mistério.
A água estabelece uma relação com Clepsidra.
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