quinta-feira, 20 de outubro de 2016
Os Dois Anteros
A existência, na poesia anteriana, de ‘‘dois Anteros’’ é uma ideia defendida, por exemplo, por António Sérgio (1981), tendo por base a oposição entre poemas que são expressão, por um lado, de um activista defensor de ideais de renovação e revolução, e, por outro, de uma ideia pessimista e negativa, mas que, talvez, também se revista de uma aspiração positiva e libertadora. A dicotomia sergiana, que opõe o Antero luminoso ou apolíneo ao Antero nocturno ou romântico, reporta-se a poemas que revelam, um, uma acção combativa e um projecto de renovação e de um ideal social, e, o outro, um conflito psicológico e a aproximação ao sobrenatural, entre a euforia e a abulia, retrato de um lutador e um desiludido. Esta concepção de ‘‘dois Anteros’’ é atribuível ao próprio Poeta, que se auto-analisava, consciente da sua instabilidade psicológica, numa ansiada busca de uma unidade ordenadora.
Antero "Apolíneo"
Ilustra a tendência luminosa uma atitude combativa e de matriz romântica de defesa de um projecto social, aliado ao papel que ao Poeta cumpre desempenhar, nunca dissociando a sua condição e o seu trabalho da reflexão estética acerca da essência e da função da poesia no contexto histórico, sinal de modernidade nas letras portuguesas.
Antero "Dionisíaco"
Os sonetos que, aqui, ilustram a tendência nocturna visam uma interpretação do espaço nocturno e da forma como o sujeito poético anteriano se relaciona com a sua manifestação e os seus agentes, assumida a noite como expressão do absoluto e da reflexão metafísica
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