quarta-feira, 24 de maio de 2017

Aparição, de Vergílio Ferreira

BIOGRAFIA DE VERGÍLIO FERREIRA

Vergílio António Ferreira nasceu em Gouveia no dia 28 de janeiro de 1916 e faleceu no dia 1 de março de 1996 em Lisboa. Foi um escritor e professor português. Apesar de se ter formado como professor, foi como escritor que mais se distinguiu. O seu nome continua a ser associado á literatura. Em 1992, recebeu o Prémio Camões. 
 A sua vasta obra, geralmente dividida em ficção, ensaio e diário

  • Na ficção temos obras como: Vagão "J"; Mudança Aparição;
  • Diários: durante treze anos, Vergílio Ferreira publicou cerca de nove volumes de diário ao qual pôs o nome de Conta- Corrente. Os volumes vão desde 1969 até 1992.
  • Nos ensaios temos obras como: Carta ao Futuro; Invocação ao meu corpo e Arte Tempo.
A sua obra costuma ser agrupada em dois períodos literários: Neorrealismo e Existencialismo, podemos considerar a obra Mudança como a obra que marca a transição entre estes dois períodos.

  • EXISTENCIALISMO
Existencialismo é uma doutrina filosófica segundo a qual o homem teve primeiramente uma existência metafísica, sendo que essa existência consiste no princípio para a resolução de todos os problemas.


  • EXISTENCIALISMO ATEU
O existencialismo ateu baseia-se, assim, nos seguintes:

  1. a ausência precede a essência;
  2. ausência de determinismo;
  3. o homem é responsável por tudo o que faz;
  4. a perceção da realidade é subjetiva;
  5. a solidão marca a existência;
  6. o homem está condenado a "inventar o homem".

RTP Ensina: "Aparição", de Vergílio Ferreira. http://ensina.rtp.pt/artigo/aparicao-de-vergilio-ferreira/

Aparição é um romance de Vergílio Ferreira que discute teorias filosóficas relacionadas com o existencialismo, escrito em primeira pessoa e publicado em 1959. A obra divide-se em três partes: o prólogo, a história(dividida em 25 capitulos) e o epilogo( que se divide em quatro partes). Segue a história do protagonista Alberto Soares quando fica colocado numa escola em Évora. 


  • Personagens.
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  1. Alberto Soares: Alberto Soares, o protagonista na Aparição de Vergílio Ferreira, procura compreender a realidade da sua existência. Busca a descoberta da pessoa que há em cada um de nós e a revelação de si a si próprio. Vive atormentado. Este estabelece uma ligação com Sofia mas, como existencialista, não crê na paixão. Aparição oferece-nos a evocação, a descoberta, a revelação, a aprendizagem e reflexão sobre a existência. Muitos acreditam que esta personagem seja o alter-ego de Vergílio Ferreira devido á forma como este narra a história. 
  2. Sofia: Sofia tem uma face jovem, olhos vivos, "corpo intenso e maleável", mãos brancas e subtis, um maravilhoso olhar. Provocadora e sensual, o seu amor é feito de entusiasmo, de desespero e de loucura.Desde criança, se revela difícil, desafiando tudo e todos, as convenções sociais e morais e a própria vida,tentando o suicídio. A personagem Sofia é aquela que leva até ao fim as consequências de estar no mundo.Dotada de excessiva energia, preferia o absoluto da destruição. Isto pode observar-se quando a irmã parte o braço de uma boneca e ela destrói os brinquedos um a um. Sofia é uma personagem lunar, nocturna. Tudo nela é enigma, com comportamentos, muitas vezes, desconcertantes.
  3. Ana: Ana, a filha mais velha do Dr. Moura, revela-se, para Alberto, de uma enorme grandeza. Inquieta, parece, até certo momento, aceitá-lo e compreendê-lo, embora resista à sua notícia "messiânica". A sua sabedoria seduz o professor. Ana possui cabelos longos e lisos, face magra, olhar vivo. Está casada com Alfredo Cerqueira, um homem honesto, prático, mas um pouco grosseiro. Lera dois livros de Alberto e sentira-se tocada pelas considerações existencialistas que neles se vislumbram. Parece haver uma intersecção entre a verdade de Ana e a verdade de Alberto. Alberto chega a considerar que Ana também sabe as palavras do abismo.
  4. Cristina: Cristina é uma menina de 7 anos, admirável, de cabeleira loura. Tocava o "Nocturno 20" de Chopin divinamente. Cristina é só arte. É criança e não questiona ainda a vida, revelando, com a sua música, um mundo maravilhoso de harmonia. A sua inocência tornará presente "o mundo do prodígio e da grandeza".Cristina é uma aparição maravilhosa. A sua música tem, para o narrador, o dom da revelação. Morrerá tragicamente ao regressar de Redondo, mas a sua imagem, a sua música e o silêncio da morte será para sempre uma amargura, presente na memória de Alberto. Cristina, dotada de grande pureza, representa mais alguma coisa para além do que a feição humana permite. Parece não pertencer ao mundo terreno.
  5. Carolino: Carolino, o Bexiguinha, primo do Engenheiro Chico, é também uma personagem importante nesta acção,quer pelo louco assassinato de Sofia, quer sobretudo pela sua fascinação pela morte como criação.
  6. Dr. Moura: É a personagem que se assume na diegese como elemento que fará a ligação aos outros, para depois se apagar até ao afastamento definitivo depois da morte de Cristina. É aquele que acredita em tudo sem necessidade de se interpelar.
  7. Chico: amigo da família Moura, é a personagem que acusa o protagonista quase desde o início da situação vivenciada em Évora. Poderá simbolizar a crueldade humana na facilidade com que julga os homens e as situações.
  8. Alfredo: O protagonista, no decurso diegético, insiste em mostrar o seu lado rude, inconveniente, indiferente  à poesia, à problematização de tudo e de nada. Atravessa o universo diegético como dos não eleitos, mas o protagonista conhece ainda outras facetas das personagens. Depois da morte de Sofia, é Alfredo que assegura a ligação a Alberto. Não pertencendo ao mundo dos eleitos, a sua presença é indispensável aos eleitos como forma de os perturbar.
  9. O Reitor:  o seu dom reside na sabedoria para pressentir, medir, ajuizar com serenidade adequada às circunstâncias e agir em conformidade.
  10. O pai: personagem sempre presente pela ausência, dele pouco se sabe, ou muito se sabe pelo silêncio que o preserva e o revela. O pai revela o dom para a introspeção metafísica da existência.
  11. Tomás: o irmão mais velho de Alberto é personagem de eleição.É o que tem o dom de perpétua ligação à terra, às raízes, essa plenitude, onde tudo estava certo: a harmonia da vida e da morte. A sua interpelação é mais simples, mais tranquila porque assume a tragédia da vida e da morte sem angústia, mas não pertence ao mundo dos distraídos.



  • Espaço.
Évora (Ilustração de J.P.Nogueira)

  1. Espaço Físico: a obra tem como cenário  espaços importantes, estes são Évora,Beira, Montanha. Évora surge como uma ''branca aparição'' enquanto que a montanha é ''poética e mística''. 
  2. Espaço social: o espaço social é constituido pelos seguintes elementos: a hierarquização social; o tipo de convivio que se estabelece entre as pessoas; os valores tradicionais; as tradições populares; as personagens-tipo. Estas personagens-tipo são: Manuel Pateta, o Sr.Machado, o reitor, Chico, Madame e Bailote.
  3. Espaço Psicologico: é constituido pelos seguintes: as reflexões do narrador; monólogos do narrador; pelo canto de Sofia no local da morte de Cristina; pela memória do narrador.
    • Tempo.

    1. Tempo da escrita: o narrador também é protagonista, logo, quando narra, situa-se no tempo da escrita;
    2. Tempo da história: quando o narrador narra, quer a ação principal (Évora), quer a secundária(férias).
    3. Tempo do discurso: consiste em analepses e prolepses- o narrador não narra as ações numa ordem cronológicas.
    • Relação entre as personagens.
    1. Doutor Moura: ex-colega do pai de Alberto, vai ser a personagem que o introduz na familia.
    2. Ana: a filha mais velha do Doutor Moura liga-se a Alberto por ser a sua discipula espiritual.
    3. Alfredo Cequeira: marido de Ana, é alvo de interesse do narrador no modo como evidencia a sua rudeza e a sua ingnorancia.
    4. Sofia: a segunda filha do Doutor Moura, vai ter aulas de Latim com Alberto. Ai, ambos sentem-se atraidos o que lhes transmite uma ilusão de identidade. Eles, e com o Carolino, irão formar com triângulo amoroso.
    5. Cristina: a filha mais nova, é alvo do carinho de Alberto, não só pela sua ideia, mas também pela forma maravilhosa como toca piano. Esta morre, mas permanecerá sempre na memória de Alberto, tal como aconteceu com o pai deste.
    6. Carolino: discípulo de Alberto, formará o triângulo amoroso conjuntamente com Alberto, ouve a sua mensagem mas interpreta-a de modo a dar à morte o sentido negativo de destruição e violência, o que o levará a cometer um crime.
    7. Chico: é o oposto de Alberto pois as suas posições perante a vida são antagónicas o que gera entre eles uma certa antipática. 

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